O QUE VAI ROLAR?

Mostra-curso sobre cinema e arte.

Todos os sábados,
a partir de 28 de abril de 2012, no Teatro Nelson Rodrigues (Avenida República do Chile, número 230, Centro da Cidade), às 10 horas.

A mostra Diálogos na Tela irá traçar uma breve história da representação na arte ocidental estabelecendo diálogos com o cinema.

As principais questões formais, históricas e estéticas das artes, do despertar da criatividade humana até o século XX, serão abordadas a partir da exibição em DVD de 16 filmes, complementados por palestras com renomados teóricos e críticos de arte e de cinema.

Os participantes que assistirem a, pelo menos, 75% das sessões e palestras terão direito a certificado com chancela da Universidade Cândido Mendes.

Facebook

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Informações sobre as palestras.

Confira abaixo os assuntos que serão debatidos nas palestras, que acontecerão logo após as exibições dos filmes. A data de cada sessão está à esquerda do blog.

2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, 1967, 141 min.
A aurora da criatividade humana, com Andreas Valentin:
O cérebro dos primeiros hominídeos evoluiu junto com as mudanças no seu corpo. Foram esses os primeiros primatas - ancestrais de nossa espécie, Homo sapiens - a ficar em pé e andar pelas planícies africanas em busca de alimento. Apuraram, assim, o sentido da visão aguçando seus dois olhos para compreender um mundo que se apresentava tridimensional. Enquanto os pés e pernas se reforçavam para correr, as mãos, com a oposição dos polegares, se especializavam para pegar com mais firmeza e destreza as frutas e a caça. Passados vários milênios, os seres humanos construíram armas, inventaram utensílios e criaram objetos ritualísticos.

Há aproximadamente 20.000 anos, desenvolveram técnicas de representação, produzindo imagens e símbolos e, mais importante, compreenderam seus significados e transmitiram esse conhecimento de geração em geração. Foi esse o começo da história de nossa inteligência, imaginação e capacidade criativa, distinguindo-nos, assim, dos outros animais. Em diversas regiões do planeta e num intervalo de tempo bastante próximo, surgiram as primeiras pinturas e inscrições em pedra hoje denominadas de rupestres. São essas representações do visível e do invisível que marcam o início da arte.

Nas cavernas no sul da França e norte da Espanha foram pintados animais - cavalos, bisões, mamutes - em movimento ou abatidos. Há, ainda, cenas que mostram mãos impressas na rocha, como uma assinatura e, portanto, testemunho. Outras nos indicam as primeiras tentativas de retratar uma narrativa, com a interação de diversos elementos pictóricos. Já no Brasil, nas rochas da Serra da Capivara no Piauí, vemos uma maior representação do cotidiano, como danças ritualísticas, cenas de caça e uma grande diversidade de fauna.

A produção dessas imagens pressupôs a observação investigativa do mundo, a invenção de técnicas e materiais que permitissem sua realização e dotar de significados aquelas representações - processos que até hoje se somam àquilo que podemos chamar de arte.

O Desprezo, de Jean-Luc Godard, 1963, 106 min.
Grécia: arte de deuses e homens, com Rodrigo Abrahim:
A Grécia Antiga constituiu-se como um conjunto de comunidades independentes, instaladas na região do Peloponeso, a partir do primeiro milênio antes de Cristo, com relações políticas e econômicas permanentes e aspectos culturais comuns, tais como a língua, a mitologia e a poesia épica. Nesse sentido, os poemas homéricos tiveram grande importância como fator de unificação da Grécia, dotando seus habitantes de um imaginário comum que, aliado a seu senso de ordem e observação, criaram condições para o florescimento de uma das culturas mais importantes da Antiguidade.
Preocupados em explicar a origem dos seres e dos fenômenos da natureza, os gregos preencheram o céu, a terra, os mares e o mundo subterrâneo com suas divindades, transpondo os diferentes sentimentos e interesses da vida cotidiana para uma zona ideal. Com o tempo, sua mitologia passou a ser expressa não só através dessas narrativas orais, mas principalmente por intermédio das artes plásticas.
As manifestações artísticas gregas, que apresentaram grande unidade ideológica e morfológica, têm seus alicerces na ênfase sobre o naturalismo – pois para os gregos a arte tornava-se mais convincente quanto mais se parecesse com a vida – e na tendência para o idealismo, traduzido na adoção de cânones ou regras fixas (análogas às leis da natureza) que definiam sistemas de proporções e de relações formais para todas as produções artísticas, da arquitetura à escultura. Assim, na arte grega destaca-se a busca pelo equilíbrio entre a verossimilhança e a abstração, uma vez que, mais do que pelas aparências, os gregos se interessavam pela essência das coisas.
Do mesmo modo que a filosofia, a arte tornou-se um dos principais legados da civilização grega para a cultura ocidental e para a História da Arte, constituindo-se como paradigma do que é tido como “clássico” e, por isso, influenciando variadas manifestações artísticas no decorrer dos séculos.

Gladiador, de Ridley Scott, 2000, 155 min.
Roma: a arte monumental, com Ivair Reinaldim:
Roma Antiga é o nome dado à civilização que se desenvolveu a partir da península Itálica, durante o século VIII a. C., e que, através da conquista e da assimilação cultural, tornou-se um vasto império. O aparecimento da cidade de Roma está envolto em mistérios e lendas. Segundo a mitologia romana, os gêmeos Rômulo e Remo foram jogados no rio Tibre, resgatados e amamentados por uma loba, para posteriormente serem criados por um casal de pastores. Adultos, retornaram a seu local de origem, ganhando terras para fundar a nova cidade.
O Império Romano caracterizou-se como uma sociedade eclética e cosmopolita, que absorveu os traços regionais num modelo comum, ao mesmo tempo homogêneo e diversificado. Sabe-se que a formação cultural de Roma deveu-se principalmente a gregos e etruscos: sua arte sofreu influências tanto da arte etrusca, voltada para a expressão da realidade vivida, quanto da grega, orientada para a expressão de um ideal de beleza. Inúmeros artistas gregos trabalharam em Roma, produzindo cópias de muitas estátuas helênicas. Mas enquanto gregos pensavam que as coisas úteis deveriam ser belas, para romanos as coisas belas deveriam ser úteis.
A arquitetura romana destaca-se pela imponência de suas construções, refletindo as conquistas e riquezas dessa sociedade. Edifícios e monumentos públicos apresentam dimensões grandiosas, reforçando não só o interesse pela praticidade, mas também o caráter celebratório de muitas dessas construções. Do mesmo modo, na escultura destaca-se a função de representar simbolicamente o status dos imperadores e das classes nobres, em suas mais variadas especialidades, seja nos relevos honoríficos, nos retratos fúnebres, nas esculturas oficiais ou até mesmo nas efígies de moedas. Na pintura, Herculano e Pompéia, cidades romanas soterradas pela erupção do Vesúvio, em 79 d. C., fornecem os principais exemplos, variando entre os estilos mais naturalistas e os mais decorativos.

Irmão Sol, Irmã Lua, de Franco Zeffirelli, 1972, 120 min.
Idade Média e a arte da fé, com Rodrigo Abrahim:
A partir do século IV, com a conversão de boa parte da Europa ao cristianismo, a nova crença começou gradualmente a substituir os ideais pagãos e a adaptar as formas da arte romana para produzir representações que melhor expressassem o sentimento religioso dos grupos convertidos. As invasões “bárbaras” também tiveram contribuição decisiva na cultura medieval, uma vez que os povos que penetravam nas regiões pertencentes ao Império Romano traziam consigo seus próprios valores e expressões artísticas. Por sua vez, o cristianismo oriental, cuja capital espiritual era Constantinopla (Bizâncio), manteve uma identidade estética particular, que muito influenciou a arte medieval no Ocidente, sobretudo na Itália.
Assim, durante a Idade Média (séculos V ao XV), a arte europeia foi marcada por forte influência do pensamento místico-religioso. A Igreja Católica, principal instituição do período, atuava não só nos aspectos religiosos, mas também sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade. Por isso, pinturas, esculturas, edificações e outras manifestações artísticas eram, em geral, patrocinadas e supervisionadas pelo clero. Nesse processo, o reconhecimento da importância da imagem na transmissão dos dogmas cristãos por parte do papa Gregório Magno, no século VI, foi fundamental para garantir um papel essencial para as artes plásticas no período. Numa época de iletrados, a Igreja enfatizava o caráter pedagógico das imagens, utilizando-se da arte para ensinar os princípios da religião.
Apesar disso, mais do que representar a realidade como ela é, a arte medieval voltou-se para a criação de símbolos (algo que está no lugar de outra coisa); não interessava representar cenas de forte apelo natural, mas enfatizar o cunho moral e místico de figuras espiritualizadas. Somente a partir do século XIII é que ideias como as de São Francisco de Assis, entre outros, enfatizaram outro olhar para as formas da natureza, tendo na figura de Giotto, cuja pintura vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, a materialização de uma nova estética.

Agonia e Êxtase, de Carol Reed, 1965, 138 min.
O Renascimento e a (re)invenção das artes, com Rodrigo Abrahim:
O Renascimento teve início na região italiana da Toscana, sobretudo nas cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para outras regiões da Europa Ocidental, entre o final do século XIII e meados do século XVI. Foi um período de grandes transformações, caracterizado pela transição do feudalismo para o capitalismo e pela ruptura com estruturas medievais nas mais diversas áreas do pensamento e de atuação humanas. Contudo, o termo é mais comumente empregado para as transformações no campo da cultura.
Gradualmente, uma nova atitude perante a vida material ganhava força, através da ênfase na experiência individual junto à natureza e no conhecimento daí advindo, em contraposição à espiritualidade excessiva do período anterior. Chamou-se “Renascimento” em virtude da redescoberta e da revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças que vinham ocorrendo em direção a um ideal humanista. Humanismo é um método que faz uso da razão individual e da evidência empírica para nortear suas conclusões, através da consulta aos textos greco-romanos originais: as ditas “humanidades”.
A contribuição maior da arte do período foi sua nova maneira de representar a natureza, através do uso da perspectiva científica e do claro-escuro, capacitando o artista a criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional sobre uma superfície plana. O próprio artista teve seu status social alterado, deixando de ser visto como simples artífice, para ser valorizado em sua individualidade e originalidade. Foi no Alto Renascimento que a arte atingiu a harmonia e o equilíbrio classicistas, especialmente no que diz respeito à pintura e à escultura. A perfeição matemática e o rigor compositivo davam lugar a uma ênfase sobre a atmosfera e a graciosidade das personagens representadas, tornando as cenas mais similares à realidade.

Caravaggio, de Derek Jarman, 1986, 93 min.
O barroco católico: razão e emoção, com Andreas Valentin:
Barroco foi um período estético-estilístico, ocorrido entre meados do século XVI e o século XVIII, estimulado pelo fervor religioso da Contra-Reforma, numa época em que a Igreja Católica se via ameaçada pelas igrejas protestantes. Tendo sua origem na Itália, irradiou-se por outros países da Europa e também pelo continente americano, por intermédio dos colonizadores portugueses e espanhóis. O termo advém da palavra portuguesa homônima que significa “pérola irregular”, originalmente utilizado pejorativamente como sinônimo de “mau gosto” pelo fato das formas barrocas corromperem as regras clássicas que predominaram durante o Renascimento.
Com forte teor propagandista, o barroco pode ser visto como “arte da persuasão”, caracterizando-se pela exaltação emocional, teatralidade dos gestos, monumentalidade das dimensões, opulência das formas e excesso de ornamentação. Sendo assim, a religiosidade passa a ser expressa de forma dramática, procurando envolver intensa e emocionalmente os espectadores, numa espécie de retomada do espírito místico-religioso da Idade Média. O edifício cristão converte-se num espaço cênico, onde são apresentados os dramas religiosos, reforçando a integração entre as artes: a arquitetura incorpora a escultura e a pintura; o rito engloba a música e o teatro. Nesse sentido, o barroco ambiciona produzir uma “obra de arte total”.
Compreendido como estilo internacional, o barroco soube assimilar aspectos diversos de cada lugar onde floresceu, adaptando-se aos mais diferentes contextos e intenções. No Brasil, caracterizou-se pela grande riqueza de detalhes nos ornamentos dos interiores e das fachadas das edificações, englobando referências portuguesas e italianas às particularidades locais. Mais do que um repertório formal restrito, pode-se afirmar que na arte colonial brasileira afirma-se um “espírito barroco”, capaz de extrapolar as manifestações estritas a esse estilo, figurando mais como uma “identidade” religiosa luso-brasileira.

Moça com Brinco de Pérola, de Peter Webber, 2003, 100 min.
O barroco protestante: a representação do cotidiano, com Andreas Valentin:
No norte da Europa, em especial na Holanda, surgiram representações que, entre outras, privilegiaram cenas do cotidiano e paisagens. Trabalhando para um novo cliente que se inseria dentro de uma lógica maior da economia baseada no comércio, no empreendedorismo e na ética calvinista, os artistas holandeses se multiplicaram e se aprimoraram.

Com forte influência da Ciência que, a partir da observação e da descrição, começava a tornar inteligível o mundo natural e as culturas dos seres humanos, os holandeses lançaram seus olhares para suas cidades e para terras longínquas por eles conquistadas com sua tecnologia marítima de ponta. Para atender às necessidades de documentação e relato visual, desenvolveram a pintura de paisagem e de elementos da natureza, expressadas nas obras de artistas como Jacob van Ruisdael em seu país e Franz Post e Albert Eckhout aqui no Brasil.

A emergente classe média urbana, letrada e rica, demandava obras de arte que atendessem a seus gostos refinados e ocupassem os espaços e as paredes das residências. Criou-se, assim, a chamada “pintura de gênero” caracterizada por imagens que emulam, por exemplo, atividades domésticas e profissionais; vistas de interiores e exteriores e naturezas-mortas mostrando mesas fartas de alimentos e decoradas com sofisticadas louças e pratarias. Muitas dessas cenas foram pintadas com o auxílio de ferramentas mecânicas - como a câmera escura, antecessora da máquina fotográfica - aproximando-as da perfeição da visão humana.

Grandes mestres holandeses, como Vermeer, Rembrandt e Franz Hals deixaram um legado de obras que configuram importantes avanços na pintura, influenciando inúmeras gerações de artistas.

Ligações Perigosas, de Stephen Frears, 1988, 120 min.
Rococó: a arte do absolutismo, com Ivair Reinaldim:
No século XVIII, o Rococó se manifestou como movimento artístico predominante, aparecendo primeiramente na França para depois se difundir por outras regiões da Europa, chegando até mesmo ao Brasil. O termo nasce da palavra francesa “rocaille”, espécie de concha associada a certas fórmulas decorativas advindas da incrustação de figuras marinhas em grutas artificiais construídas nos jardins dos palácios. Tornou-se elemento decorativo característico desse estilo, não somente na arquitetura, mas também nas manifestações ornamentais e de adereços.
O rococó se desenvolveu a partir da crescente liberdade de pensamento que nascia na França do século XVIII. A morte de Luís XIV, o “Rei-Sol”, em 1715, tornou possível uma flexibilização da cultura francesa, até então fortemente cerimonial, pomposa e dominada pelas representações do rei, permitindo à nobreza recuperar parte de seu poder e influência. De Versalhes, muitos nobres deslocaram-se para suas residências interioranas ou em Paris, criando a chamada “cultura dos salões”, marcada pelas reuniões sociais, que aconteciam entre discussões literárias e artísticas.
Assim, o estilo refletiu o comportamento da elite francesa, empenhada em traduzir o fausto e a agradabilidade da vida, caracterizando-se pela elegância requintada, pela índole hedonista e pela delicadeza e sensualidade dos elementos decorativos. Na pintura prevaleceu o caráter lúdico e mundano dos retratos e das festas galantes, representações dos costumes e atitudes de uma sociedade em busca da felicidade, da alegria de viver e dos prazeres sensuais. Particularmente, na Europa Central o estilo foi adaptado para a decoração monumental de igrejas e palácios, servindo também como meio de glorificação religiosa. No Brasil, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde foram os maiores representantes do estilo empregado em obras sacras.

Sombras de Goya, de Milos Forman, 2006, 113 min.
Neoclassicismo, romantismo e modernidade, com Ivair Reinaldim:
A modernidade pode ser entendida como um ideário relacionado ao projeto de mundo moderno, consolidado com a Revolução Industrial. Na fórmula de Charles Baudelaire, a modernidade “é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável”. Desse modo, novas bases para a arte estavam lançadas: ao mesmo tempo, referir-se a seu próprio tempo - àquilo que é efêmero - e ao passado, àquilo que é eterno. Segundo o historiador italiano Giulio C. Argan, a arte moderna tem início no final do século XVIII com dois movimentos quase simultâneos: o Neoclassicismo e o Romantismo.

O Neoclassicismo foi um movimento cultural que defendeu a retomada dos princípios estéticos da antiguidade clássica, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. Assim, recusou a arte anterior (Barroco e Rococó), associada ao excesso e à desproporção, valorizando a simplicidade, a austeridade e o rigor formal. Acompanhando as mudanças no período, relacionadas ao racionalismo de origem iluminista, à ascensão da burguesia e à revolução industrial, os artistas neoclássicos defenderam a supremacia da técnica e a universalidade do projeto (desenho) a comandar a execução da obra.
O Romantismo, por sua vez, caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo, centrada no sujeito e nas tradições culturais regionais (folclore, língua, história), o que viria a consolidar os Estados nacionais na Europa. Os românticos libertaram-se da necessidade de seguir formas e padrões já consagrados, abrindo espaço para a manifestação da individualidade, muitas vezes definida por emoções e sentimentos. Assim, defenderam a livre expressão da personalidade e a exploração da imaginação como principal fonte de recursos para a expressão artística.

Van Gogh - Vida e Obra de um Gênio, de Robert Altman, 1990, 138 min.
Impressionismo e pós-impressionismo: a pintura e o visível, com Ivair Reinaldim:
Impressionismo é o termo usado para designar um movimento que tem origem na França entre as décadas de 1860 e 1880 e que reforçou uma nova concepção de pintura, dando ênfase à luz e ao movimento. A origem do nome remonta a um texto do crítico Louis Leroy, que a partir da tela Impressão, sol nascente, de Claude Monet, rotulou os artistas como “impressionistas”. Assim, já em sua primeira exposição, em 1874, o grupo enfrentou a reação depreciativa de grande parte da crítica e do público, ainda fiéis aos princípios acadêmicos da pintura.
Embora não fosse um grupo homogêneo, é possível salientar algumas características comuns na pintura desses artistas: preferência pelo registro da experiência cotidiana; observação da natureza com base em impressões pessoais e sensações visuais imediatas, em geral, favorecidos pela pintura ao ar livre; suspensão dos contornos e dos claro-escuros em prol de pinceladas fragmentadas e justapostas. Enquanto que a fotografia reforçou a estética do instante, através da captação de momentos específicos, as gravuras japonesas (ukiyo-e), introduzidas na França com a reabertura dos portos japoneses, salientaram a não utilização de princípios ocidentais de representação, tais como a perspectiva.
Pós-impressionismo é o nome consensual dado às diferentes tendências artísticas que se originaram do Impressionismo, por volta de 1885. Desse modo, chamam-se genericamente pós-impressionistas os artistas - entre eles Vincent van Gogh, Paul Gauguin e Paul Cézanne - que não mais seguiram fielmente as características do Impressionismo, desenvolvendo novos caminhos para a pintura no final do século XIX e constituindo-se como diferentes referências para as diversas vanguardas do século seguinte.

Os Amores de Picasso, de James Ivory, 1996, 125 min.
Vanguardas históricas: criatividade e expressão no século XX, com Pedro Vasquez:
Em sua origem, vanguarda é um termo bélico, referente ao batalhão militar que precede as tropas em ataque durante uma batalha. Na cultura, em sentido amplo, pode ser entendido como aquilo que está à frente. Assim surge a definição adotada por uma série de movimentos artísticos, principalmente no início do século XX, que acreditavam guiar a cultura de seu tempo, estando de certa forma à frente dela. Além de expressarem sua oposição contra as manifestações artísticas obsoletas, esses grupos também se destacaram por sua atuação sócio-política.
O século XX foi marcado por profundas transformações em todas as esferas humanas e os artistas não podiam manter-se alheios, o que em parte justifica a profusão de movimentos e ideais artísticos que nele surgiram. Esses movimentos buscavam expressar sua revolta contra a regras e imposições e mostrar novos modos de ver o mundo. Dentre eles, destacam-se: o Expressionismo, o Cubismo, o Futurismo, o Dadaísmo, o Surrealismo e as diversas correntes de arte abstrata.  Em muito ajudou a formação de grupos, normalmente relacionada à necessidade de sobrevivência material e à facilidade de transmissão de idéias. Apesar de aparentemente apresentarem pensamento e atitude comuns, os movimentos eram constituídos por personalidades e estilos pessoais bastante fortes e distintos.
É importante salientar que, originalmente, a vanguarda estava identificada com a promoção do progresso social: o indivíduo ou grupo a ela ligado seria responsável por um movimento de reformas. Com o tempo, o termo passou a ser usado também para se referir a artistas mais preocupados com a experimentação estética. De qualquer modo, sempre se manteve a ideia de um movimento artístico como um movimento político: muitos grupos acabaram por assumir um comportamento próximo ao dos partidos políticos, fazendo militância e lançando manifestos.

Blow-Up - Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni, 1966, 111 min.
Fotografia: documentação e criação, com Pedro Vasquez:
A década de 30 do século XIX e, sobretudo, o ano de 1839 foram decisivos para o desenvolvimento da tecnologia de captura e fixação da imagem fotográfica. Por toda a Europa e em outros continentes, por caminhos diversos, buscava-se um substituto para as mãos e mente humanas na representação do mundo real através de imagens. A sociedade do mundo industrializado ocidental estava pronta para absorver a fotografia. Foi a resposta definitiva para a demanda de representações mais precisas e fiéis da realidade cuja origem remonta ao Renascimento, quando foram desenvolvidos os diversos mecanismos para uma reprodução mais fidedigna do real.

Apesar de precários no início, os processos rapidamente evoluíram possibilitando a documentação fotográfica de paisagens urbanas e naturais e, principalmente, retratos de pessoas. A partir de 1860, iniciou-se um embate, contrapondo a imagem fotográfica à pintura. Enquanto uns denunciavam a fotografia como meramente técnica e mecânica, outros encontravam ali novos caminhos para a expressão artística. Surgiram, então, movimentos como o pictorialismo, que buscaram aproximar a fotografia da arte.

A partir do século XX, estabeleceu-se definitivamente como poderosa ferramenta para a documentação, principalmente a social. Consolidaram-se e ampliaram-se, também, suas possibilidades como suporte para a experimentação e a criação. Hoje, com a massificação da imagem digital, ela se entrelaça em nosso cotidiano e nas artes.

Basquiat - Traços de uma Vida, de Julian Schnabel, 1996, 106 min.
Pós-modernismo, cultura de massas e arte, com Pedro Vasquez:
Pós-modernismo é um termo ainda controverso e sem definição consensual entre seus diversos teóricos. Pode-se, contudo, ressaltar que ele se refere às mudanças ocorridas a partir da década de 1950, identificadas com o desenvolvimento tecnológico, o surgimento da cultura de massa e a transformação dos valores sociais daí decorrentes. Na “sociedade do espetáculo” (conceito desenvolvido por Guy Debord), os meios de comunicação transformam a sociedade através da produção de simulacros e da ênfase sobre o entretenimento, muitas vezes produzindo uma realidade híbrida e fragmentada. A arte da segunda metade do século XX caracteriza-se por um momento em que diferentes tendências, movimentos e estilos coexistem de modo plural, sem coerências formais, estéticas e teóricas ou demarcação de linhas evolucionistas.
A Pop Art foi a expressão artística pioneira dessa nova relação da arte com a vida cotidiana. Sua iconografia é a da televisão, da fotografia, dos quadrinhos, do cinema e da publicidade.  Seu discurso é ao mesmo tempo celebratório e irônico, desenvolvendo uma análise crítica do modo como as imagens circulam na cultura de massa e dos limites e valores institucionais da arte. A partir daí, artistas passaram a explorar as mais variadas questões e suportes no desenvolvimento de seus trabalhos, das novas mídias, passando pelo uso do corpo, do espaço urbano e natural, até os suportes tradicionais revisitados.
Uma das linguagens decorrentes do pós-modernismo é a dos grafites. A partir do movimento da contracultura, sobretudo Maio de 68, quando os muros de Paris tornaram-se suporte para inscrições de caráter poético-político, a prática do grafite generalizou-se pelo mundo, em diferentes contextos, tipos e estilos, que vão do simples rabisco - “tags” (assinaturas), como uma espécie de demarcação de território - até grandes murais executados em espaços específicos.

Pecker - O Preço da Fama, de John Waters, 1998, 87 min.
Fotografia: o olhar autoral, com Pedro Vasquez:
“De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-las voltar. Não podemos revelar ou copiar a memória.”
Henri Cartier-Bresson

O fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi autor de algumas das mais icônicas imagens do século XX. Com seu olho aguçado e suas precisas câmeras alemãs Leica, ele viajou e documentou praticamente o mundo inteiro. Fundador da Agência Magnum, dizia-se fotojornalista. Suas fotografias, porém, ultrapassam a reportagem fotográfica, tornando-se objetos de apreciação estética - arte, portanto. O estilo “bressoniano” teve - e ainda tem – significativa influência na fotografia.

Bresson é apenas um dos muitos fotógrafos que construíram em sua obra uma maneira própria e singular de se expressar. A partir das primeiras décadas do século XX, a fotografia começou a ter um olhar autoral que, já há muitos séculos, se consolidara nas outras formas de expressão artística.

Na fotografia, a diversidade de estilos e modos de ver é tão ampla como o são seus autores, em épocas e lugares também diversos. A este amálgama somam-se, ainda, as múltiplas aplicações práticas da fotografia - documentação, arte, publicidade, memória, pesquisa, entre tantas outras - e seus inúmeros processos técnicos de realização.

Verdades e Mentiras, de Orson Welles, 1974, 85 min.
Obra de arte: original ou cópia?, com Pedro Vasquez:
“Nada se cria, tudo se copia”, disse Chacrinha sobre a televisão brasileira na década de 1980. De forma semelhante, o filósofo alemão Walter Benjamin enunciou em seu célebre ensaio “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica” que “em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens.”

As pinturas nas cavernas, primeiras manifestações artísticas dos seres humanos, já não eram propriamente originais, pois foram copiadas e repintadas inúmeras vezes. Escultores e pintores romanos copiaram obras gregas. Na Idade Média, quando ainda não existiam meios mecânicos de reprodução, monges cristãos copiavam a mão os livros do Evangelho, ilustrando-os com imagens que, muitas vezes, se repetiam. Na China, os discípulos precisavam copiar as obras de seus mestres, buscando superá-las.

No século XVI, quando foram inventados os primeiros processos de reprodução de imagens através das gravuras, muitos artistas começaram a produzir também para esse mercado que começava a se consolidar. Com o surgimento da litografia no final do século XVIII, da fotografia poucas décadas depois e do cinema no final do século XX, cópia e original tornaram-se palavras cada vez mais corriqueiras e motivo para questionamentos e reflexões.

E hoje, com a sofisticação técnica e massificação das mídias digitais, ainda é pertinente discutir os conceitos benjaminianos de “aqui e agora”, “existência única” ou “aura” na obra de arte?

Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, 1969, 108 min. e Héliophonia, de Marcos Bonisson, 2002, 17 min.
Brasil: modernismo e vanguardas, com Andreas Valentin e Marcos Bonisson:
O termo “Modernismo brasileiro” refere-se a um movimento cultural com grande repercussão sobre a cena artística e a sociedade brasileira nas primeiras décadas do século XX, principalmente no campo da literatura e das artes plásticas, a partir da assimilação de tendências promovidas pelas vanguardas europeias e do ajuste das mesmas às singularidades nacionais. A Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, é tida como marco referencial do movimento.
Muitos estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930 como a fase em que se evidencia o compromisso dos artistas com a renovação estética. Devido à necessidade de rompimento com as estruturas do passado, esse foi o momento mais radical, assumindo um caráter anárquico, polêmico e, por vezes, iconoclasta. A geração posterior difundiu, popularizou e, em termos, institucionalizou o modernismo, através de uma adequação dos ideais vanguardistas com o movimento de “retorno à ordem” europeu e às preocupações de cunho social.
Nos anos 50, por sua vez, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo iniciaram processos de desenvolvimento econômico. Do ângulo das artes visuais, a criação dos museus de arte e da Bienal de São Paulo estimulou a instalação da vanguarda construtiva no Brasil, enfatizando o debate cultural, a experimentação, o predomínio das tendências não figurativas e a proximidade entre trabalho artístico e produção industrial.
Por fim, fortes discordâncias entre artistas e teóricos de São Paulo e Rio de Janeiro marcaram a polêmica do período: enquanto a investigação dos artistas paulistas enfatizava o conceito de pura visualidade da forma, o grupo carioca opunha-se com uma tentativa de inserir o dado sensível a sua obra. A cisão entre os dois grupos desdobrou-se na criação do Neoconcretismo, visto pelo crítico Ronaldo Brito como “vértice e ruptura do projeto moderno brasileiro” e uma das mais importantes referências da arte contemporânea no Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário